Como os barrados de crochet me salvaram

Em 1992 eu tinha 39 anos e fiquei grávida. Tinha só uma filha adolescente. Meu marido e eu tínhamos decidido que seria só ela. Mas as coisas não são como se planeja e eu me vi grávida. Foi um choque , não no sentido que vc poderia pensar, mas foi pq eu comecei a amar a criança imediatamente. Bem, não durou, eu a perdi num sábado frio e chuvoso de julho, poucas semanas depois do resultado do teste. Eu me senti roubada, entendi tudo o que as mulheres têm sentido desde os primórdios do mundo quando perdem um filho, nascido ou não. Fiquei deprimida, me encerrei na minha pequena biblioteca e não queria mais sair de lá. Fazia barrados de crochet sem parar. Fiz muitos mesmo. Saí da sala depois de uma semana, pois o mundo lá fora esperava que eu continuasse cumprindo minhas obrigações. Não tinha morrido de dor. Minha dor se traduziu em barrados de crochet. Foi aquela agulha e as linhas coloridas que me salvaram. A dor continua até hoje mas sobrevivi.